Eu estava esparramado na rede
jeca urbanóide de papo pro ar
me bateu a pergunta, meio à esmo:
na verdade, o Brasil o que será?
O Brasil é o homem que tem sede
ou quem vive da seca do sertão?
Ou será que o Brasil dos dois é o mesmo
o que vai é o que vem na contra-mão?<

A COR DO PÔR-DO-SOL
(Ivan Lins e Celso Viáfora)

É Fellini ou serão nossas vidas?
Em que filme deu-se o nosso amor?
Em que porto dá-se a despedida?
Cagliari?
Gênova?

Do que se ilumina a nossa fita?
De que pôr-do-sol vem essa cor?
Que passados a paixão habit

A casa do Deus em que acredito

é onde mora Nossa Senhora

Maomé ora com Jesus Cristo

ao som ancestral dos tambores

do Congo, do Keto e de Angola

Moisés e Buda colhem flores

Tupã dança para o infinito

Tem Gandhi ensinando amar

Tem hippie fazen

De que adianta saber que você treme só de pensar em dormir na minha cama
Se a gente quase não se vê
De que adianta escutá-la dizer que me ama, pelo telefone, sozinho na sala
Morrendo de fome pensando em você
De que adianta gritar por e-mails diversas palavras bonitas, escritas

O "New York Times" não deu uma linha
A "BBC"de Londres nenhuma palavra
Mas ontem no Xingu um índio se afogou
E um guarda-marinha
Se atirou nas águas
Pra salvar a sua vida

Na mesma hora um favelado da Rocinha
Que tinha sete filhos arrumou mais um:
Era menino loir

Um dia Deus criou o mar
e o mar teceu a concha
a conha criou a ostra
índio comeu a ostra
de certa forma engolindo o mar
A ostra é sua hóstia
Quem foi que disse que os índios não tinham Deus?

Não gosto do negro só porque ele é negro
gosto de Maria do Rosário e de Diego
Não gosto do índio só porque ele é índio
gosto de Potira como gosto de Dulcídio
gosto de Tainá e de Damião

Não gosto do rico só porque ele é rico
gosto de Raul, de Januário e de Junico
Não

Eu não quero o excesso
eu não quero o imenso
vivo do intenso que me circunda
Eu não quero máscara
a cara oculta
só quero aquilo que me desnuda

Não quero o cativo
eu não quero nada exclusivo
ou livros de auto-ajuda
Quero o coletivo, a massa
o show na praç

ANTES DO AMOR
(Vicente Barreto e Celso Viáfora)

Antes do amor
olha pra mim com cara de paixão
do corredor, enquanto esfrega o chão
Faz a mulher que todo homem deseja
ainda caprocha no forno e fogão
Põe pra gelar no balde umas cervejas
só pra esquentar mais o meu

Na praia da tua pele
na orla do teu domingo
eu brinco de navegar
e você flutua comigo

Que mares serão aqueles?
Mergulho e me desmilingüo
Marolas dentro de ti
são as ondas do Havaí

Dentro de ti
ao me afogar
eu descobri
Atlântida

Perto de ti

Dança o batuque que entoca o que é triste
Boto maraca no maracatu
Batuque que tu em Quito pediste
a este que te mostrou o lundu

Não tem chamego maior neste mundo
que teu requebro de negra zulu
Dança que eu bato o batuque de tudo
baque quebrado em tambor do Xingu

No pé da madrugada
se acende um dó maior
samba-de-roda, jongo, congada
toada com carimbó
vaneira
Calango, chararera
Catira, chamamé
partido-alto, salsa, habaneira
maxixe, boi, afoxé
rancheira
Hip-hop, maculelê
baião, coco, síria
Um batuque, um batu

Vi a chuva da Amazônia, vi todo Jequitinhonha verdejar
São João com boi na Ilha, vi quadrilha com forró no Ceará
Vi pinhão no pinheiro do Paraná
coco verde no coqueiro em Paquetá
vi manga-rosa nas mangueiras do Pará
quando vi você chegar

Vi o Galo em Olinda, vi cabinda,

Tem gente que vai à feira
Tem gente que volta do bar
Gente na missa da padroeira
Gente na beira do mar
Cada um faça o que queira (cada um)
Quem quiser que faça igual (faça igual)
Vivo da minha maneira
Não mudo de jeito algum
Cada um é cada qual (cada qual)

O

CANÇÃO BRASILEIRA
(Celso Viáfora)

Não tem feijão, vai pão com rapadura
muita mistura envenena o coração
Meu par de sete vira um full hand de figura
que em noite escura vaga-lume é lampião

Sol na moleira
vida regateira
sem eira, nem beira
Põe madeira pr

CHORA
(Celso Viáfora)

Então, a gente fica assim
não molha as flores do jardim
Tá combinado: o nosso amor já era!
Paixão demais é tão ruim
Então um brinde ao fim
dessa alucinação da primavera!

Eu só sufoco a tua paz
Pecamos por querer demais
Estamo

Ponta do pé
Um pé para sair bem devagar
Pé de quem vai ao tibet
Para meditar

Pé que bate o pé
Pé que é um cara que não tem noção
Se disser que não
Então não é

Pé para o ar
Um pé de vento
E tudo vira pó
Pé que periga afundar pelos cafundó

Pé q

João: pode ser que vá chover
Chovendo, vai encher meu beco...
José: o quê?
Olha o tamanho do luar!
João: sei lá:
A chuva faz que vai parar
Mas não
O tempo tá uma confusão
José: tá tudo fora de lugar sertão encheu, o sul tá seco
João: tufão...
José: onda va

A casa do Deus em que acredito
é onde mora Nossa Senhora
Maomé ora com Jesus Cristo
ao som ancestral dos tambores
do Congo, do Keto e de Angola...
Moisés e Buda colhem flores
Tupã dança para o infinito

Tem Gandhi ensinando amar
Tem hippie fazendo amor
Tem te

Voltar pra casa é conhecer
todas as gírias de um lugar
Ver que são parte de você
Voltar pra casa é repensar
sobre o que é mesmo importante a gente ter

Voltar pra casa é um relembrar
pequenas coisas do viver
que nem se chega a esquecer
Voltar pra casa é perceber<