Desculpe o transtorno
E as palavras em torno
Do meu dia a dia
Segundo as razões
Das minhas questões
Me sinto tranquila

De hoje em diante
Não suporto mais
Evitar seu olhar
No meu olhar
Não desvie, nem mire
Outros rumos

Que a vida da voltas
A

Eu tenho carne pra dar e vender
E a minha alma triturada e nua
Devassada e crua não tem mais valor

Em cada canto em cada calçada
Um dedo podre em plena luz do dia
Me aponta uma arma: me atira

Eu tenho carne pra dar e vender
Eu tenho carne pra dar e vender

Cu

O ideal é que parasse de doer
Mas essa dor invalidou qualquer desejo
Desanimei quando vibrou no peito
Faltou sentido na vida e a lucidez se foi

Por entre os carros, sem sinal paralisei
Deixei fluir angústia, medo e confusão
A minha casa era logo ali
Dois quarteirões

Mulheres morrem a cada tempo real
Mulheres morrem!
Mulheres sem culpa, mulheres de lutas, morrem
Mulheres morrem!

Mulheres usadas, complexadas, morrem
Mulheres morrem!
Mulheres: Bocetas, seios, bunda, pelos

Saia justa, justa causa - Saia!
Sua gravidez agora é

Água que cai no chão
Água que voa em vão
Mente demente sem cara, sem dente
Água que pinga, que pinga ardendo
Que mata o fígado que traz ferida

Água torneira que cai na foz do nada
E o nada vira esgoto nu
Escorre em atos, na tua boca
E a desperdiça feito mosca

Eu era duas de mim
Duas casas, duas paredes
Um outro lado me cerca
O outro lado se importa

Havia duas verdades
Duas casas, duas paredes
E a cabeceira antiga
Silêncio e mesa vazia

Jornada dupla sem sossego
Trabalho livre ou profissão?
Me diz quem é você

Corre fecha a porta
Dos ruídos da mente
Que se expõe ingênua
Que bloqueia a brisa
Que era leve a mente
Fecha todas as portas

Fecha a porta dos ruídos da mente

Silêncio inocente
Que cala a folia dos dias
Dos pensamentos eróticos
Das noites, das brigas,

Tic-tac sola na sala azul
E eu aqui com as minhas lembranças
Ancestrais
Tempo velho, velho tempo
De luz negra
Assombrando meus temores
Apague a luz, agora

E eu que vivo vivendo
A morte viva da sua memória
Viva ao menos uma vez
Acende a luz, agora
Seu

Não estava em mim, naqueles dias
Só peço, compreenda
Hoje entendo o que aconteceu
Diante dos seus olhos, eu

Estava deslumbrante
Confusa e destemida
Perdia o foco do olhar
Achava tudo tão normal

A risada falsa era o que restava
E na face as marcas dos dedos

Eu vou de rio, vou de corrente
Vou no mar de maré cheia
Vou sem naufrágios, sem pestanejar
Com rabo de saia, com pele de gente

Com alma de sereia eu vou
Eu vou, eu vou brincar no mar
Vou brincar no mar
Vou ser cantor

Painho alertava
Mãe desacreditou
Cu

Acordo sempre, sonolenta amassada
Com a cara engavetada
Rastreando a noite que o lençol levou
Sedas rasgadas espalhadas pela casa
Cheiro forte lamentando o Sol que nasce na janela

O vento sopra, chacoalhando o corpo afora
Magoando as camisolas
Ocupando minhas manhãs

Ei quanto tempo se leva
Pra nunca se perder
Quanto tempo me resta
Pra ser somente ser
Vida segue num rio que seca

Ei sobre o tempo e a pressa
De se achar, pra que?
Se estar longe é o bastante
Pra esquecer
Vida segue do jeito que Deus quiser
Traz de volta