A cor da lágrima é a mesma da alma
Luz de dentro refletida pra fora
Espelhos de Sol gotejando no olhar
Nuvens escuras chorando ao luar

Águas correntes revolvem a terra
A vida renasce depois de secar
Rios de tristeza somem no mar
A verde esperança começa a brotar

Te esquecer é o presente que aguardo calado
O futuro não anda com tanto passado
Saudade assim tem que ter um fim
Não quero você mais dentro de mim

Já limpei prateleiras e fundos de armários
Esvaziei as gavetas e cofres fechados
O pó da lembrança permeia o quarto
Tod

Amigo do violão por favor hoje não
Aquela canção agora dói no coração
Se for tocar eu chamo o garçom
Peço a conta e saio sem direção

Nossa música era pra celebrar a vida
Trilha sonora de tantas alegrias
Noites insones de pura euforia
De bar em bar beijos e cantoria<

Caiu geada madrugada passada
Capim manheceu coberto de branco
O frio queimou toda a invernada
Pasto derreteu junto com o gelo

É a segunda no ano
Talvez caia uma terceira
Inverno só começando
Fazenda enfrenta dura seca

É triste ver o gado sofrer
Urubus rode

Boca de pito, paiero, dedo de prosa
Botina no estribo toque de espora
Partir bem cedinho com orvalho nas costas
Cheiro de mato, capim molhado e roça

Ventos gelados cortam rostos e crinas
Cavalos suados cruzam rios e campinas
Velhos vaqueiros seguem sua trilha
Jovens

Cor de rosa é o boto
Vestido todo de branco
Chapéu pra esconder o encanto
Estranho no vilarejo

Aparece em festa junina
Sempre na Lua cheia
Seduz jovens meninas
Futuras mães solteiras

Deixa os filhos em terra
Volta ao leito dos rios
Príncipe do Amazonas

Não sei se é verde ou azul seu olhar
Beijos das matas no encontro com o mar
Tons de esmeralda, toques de safira
Turmalina, turquesa, água-marinha

Diamantes são prismas na íris da atriz
Joias coloridas como colibris
Vagalumes rebrilham no chafariz
Arco-íris que acend

Você está tão bonita
Sempre o mesmo sorriso
Não mudou quase nada
O tempo foi seu amigo

Ganho um beijo no rosto
Sinto seu cheiro de novo
Perfume da mocidade
Essência de juventude

Trago flores e um vinho
O mesmo do nosso passado
Guardei as rolhas comigo<

Em noite sem Lua santa cruz é deserta
Sob o céu estrelado dorme tranquila
Escuto o rio pardo minha companhia
Na madrugada a cidade é só minha

Procuro jardins roubando rosas
Pra cada flor escrevo um poema
Retiro espinhos ajeitando pétalas
Enlaço bilhetes com minha po

Zoólogo desde semente
Desabrochou na cidade uma figura sublime
Espécime ímpar e raro
Pra São Paulo exibir na vitrine
Cobra criada no samba
Despontou para este mundo Paulo Vanzolini

Cientista com alma de artista
Desbravou o Brasil o compositor
Por ter mente férti

Vento forte desnude a Lua pra mim
Carregue pro oceano as nuvens daqui
Um jardim de estrelas deseja florir
Limpe o céu pro Sol voltar a sorrir

Vento forte leve a chuva pra longe
Águas correntes destroem açudes e pontes
A lavoura padece sob a força da enchente
Terra r