Queira Dionísio nos valer
Antes de Narciso se afogar
Clamem as sereias pra cantar
Yemanjá virá nos proteger

Que auê que a Barca faz no coração

São Luiz Gonzaga nos chamou
Por detrás dos olhos de um Falcão
Cujas asas foram nossas mãos
E a ignição do seu motor</

Dizem que tudo passa
E o tempo duro tudo esfarela
O sangue há de morrer
Mas quando a luz me diz
Que esse ouro puro se acaba
Por finar e corromper
Meu sangue ferve
Contra a vã razão
E há de pulsar
O amor na escuridão

A noite é tão fria
A mata escura
Mas lá nas alturas
A Lua brilhou

O mundo me chama
Estou tão sozinha
Cadê meu caminho?
Cadê meu amor?

Estrela da noite
Cadê meu futuro?
Janela brilhando
Quem vela por mim?

Quem sente que eu chego?
Quem ouve

Quem nasce aqui é que sabe
O quanto é ruim essa terra

Isso aqui é uma prisão
Lugar de erro e castigo
Pois pra viver no sertão
Tem que ser seu inimigo
Travar com ele uma guerra

Onde a mulher é escrava
Do mundo inteiro e do homem
Onde quem planta não colhe

Quando eu conversar com Deus
Vou querer lhe perguntar
Se no céu tão estrelado
Não existe algum lugar
Onde a gente que se ama
Tenha um teto e uma cama
Pra viver e pra sonhar

Queria dizer absurdos
Mas nasci no tempo errado
O teu coração é surdo
Pro meu peito magoado

Tinha tantos impropérios
Mas então estão guardados
Prum momento menos sério
De corações desarmados

Perigoso e desarmado
É o meu jeito de viver
Com o seu foi com

É só porque te vi
Que o mundo gira
Foi só quando te olhei
Que o Sol brilhou

E tudo que eu vivi
Virou mentira
Agora eu sei
Agora eu sou

Fui só até cruzar
O teu caminho
Fui eu até o olhar
Bater em ti

Não sei mais quem sou eu
Quem é o mundo<

Alembramento será
Alembramento é
O pensamento voar
Onde ele mais quiser

Existe ser e sonhar
Existe chão e céu
Alembramento é voar
E ousar erguer um véu

Kyrie, kyrie eleison
Kyrie, kyrie eleison
Kyrie, kyrie

Na tarde de sol
Ela estava ali
O sol quarando a mágoa
A dor quarando a solidão

No canto da casa a bicicleta velha
No canto da mágoa a dor de quem se foi
O sol quarando a mágoa
A dor quarando a solidão

Na velha dispensa o resto de comida
No resto do peito o

Há muito eu estou no sertão
No subsolo sondando
Quando eu escrevo, é versando
Pelo mercúrio do chão

E sempre na influição
Do tesouro e da riqueza
Perfuro com sutileza
Grutas profundas na terra
Procurando o que ela encerra
Nas pedras da realeza

Lerê lerê lerê

Essa vida tá ficando louca
Todo mundo em armas, sem compaixão
Sem razão nenhuma, sem pedir desculpa
Olha o vendaval do litoral ao sertão

O povo quer cantar, ô
Viola e marimbau
As vozes de um coral, ô
Bumbo, pandeiro, ganzá, agogô

Essa vida

Aprendi a cantar com o vento
As águas me mostram o caminho
Todo lugar que eu chego é ninho
E a minha canção é o tempo

De viver e andar não lamento
A saudade não me causa dor
Se ela me pega com furor
Canto como faz o passarinho
Mesmo que a vida traga espinhos

Estrada, poeira, estrela, luar
Caminho da vila de Taperoá
Na baixa do rio, o solo rachou
E o leito vazio que o sol ressecou

Estrada, poeira, canseira e sertão
Adeus povoado, adeus caminhão
E o circo sozinho segue a viajar
Buscando o caminho de Taperoá

Taperoá!

De repente estou aqui
No sítio Rancho do Povo
Lugar onde já fui novo
Lutei, brinquei e cresci

E tudo que aprendi
Brotou aqui desse chão
Quando o mundo me diz não
Venho cá buscar meu sim

Tudo cala fundo em mim
Feito eu fosse um cacimbão

Fui embora mas

[instrumental]

Ê ê ê ê

Alembramento será
Alembramento é
O pensamento voar
Onde ele mais quiser