Ao caminhar, acalmar
Os passos de agora
Na aurora

Encantar nascer composições
Nas fendas das árvores
Nas sendas dos bichos

Enraizar a seiva da Terra
Pro céu
Enraizar a seiva da terra
Pro céu

Desabrochar a Flor do Tempo
E as cores do invisível

Ponha na calçada poesia
Use o amuleto da canção
Pra que sinta o Sol do meio dia
Correr noite na coxia
Na enora o coração

Cruel maneira que usaram
Pra te consumir
Sangue nas mãos foi herança
De quando nasci
Nascido/Narciso da própria imagem
Eu me despedi<

Ecoa, ecoa no pé do ouvido
A paisagem nu sereno
Ruidosa, alucinante carne
Sonora, transformando pequenos
Avessos, a versos, sóis poentes
No instante que lambi seu olho
Do todo um pouco pude ver

Entoa, entoa a vibração primeira
No céu uma boca escutava
O que

Estourou, estourou
A represa do meu peito
Inundou de amor meu
Arredor
Foi um pingo atrevido de
Suor

O estopim dessa
Enchente anunciada
Do bolero d'uma anca
Agalegada
O meu corpo foi parceiro
Tão perfeito

Misturando meu jeito
Com teu jeito

Me tornei um forasteiro
Vilarejos, cidadelas
No ofício de violeiro
Abrindo portas, janelas
Na estrada me aprofundo
Me dano no mêi do mundo
Pra ver se me afasto dela
Mas onde eu chego ela está
Flores de cor amarela
No sertão, na beira mar
Nos casarões, nas

Uma moça despida
De nuvens banhada
Deixa enamorada
A noite embevecida
E a vista vestida

De azul e amarelo
Constrói seu castelo
Num plano infinito
Tudo é mais bonito
Lunar, lúdico e belo

A Lua é pra gente
O maior candeeiro
E o grande terreiro

No sertão do moxotó
Vaqueiro corre no mato
O seu couro é só maltrato
De jurema e de malícia

Mandacaru, xique-xique
Toda galha enviesada
Vira faca amolada
Pronta pra dar o talho

Mas tal qual os cavaleiros
Dos tempos medievais
O matuto também traz
Ar

No entoar dos violeiros
Quimera da aleluia
Sua sina cantoria
Do véu da noite pro dia

Figueira
Palavra acesa
Destino que amanhecia
Viver não é passar tempo
É acumular sabedoria

Corre, corre, corre por aí
Finge que nada aconteceu
Pois motorizado é o coração
Que de encharcado, diz que

Sutilmente omite a sensação
De pressão acima do comum
Sentindo-se no fundo do mar
Vai navegar pelos lençóis
E pelos lençóis ir descansar

Senta e tram

Uma salva ao poeta ancestral
De riúna carregada com a magia
Que espalhou pelos campos da agonia
O alento de seu verso atemporal
Massapê da cantoria marginal
Entidade a dibuiar letras e notas
Quando as unhas acariciam as cordas
Terei feito ao universo o meu chamado

Um mergulho no sertão
Vasto mar da poesia
Num encanto em cantoria
Vela aberta ao coração

Entoo a mesma canção
Que canto desde criança
Sinto em volta a esperança
Acalmar a vastidão

Feito um verso de Cancão
Indo sempre mais profundo
Busco o oco do mundo<