Interlúdio Pertencimento

Quem balança esse oceano com riquezas mutiladas
Espíritos quebrados, raízes que sufocam
Fronteiras que se movem como bandeiras
Quem decide de quem são as propriedades
As minhas propriedades
Não é a minha casa

É o que tá no meu corpo e na minha mente
Minha multiplicidade
Minha mediocridade
Meus preconceitos
As mentira que falo para mim mesma

Meus medos
A minhas vontades e desejos
Meu cabelo bagunçado
Minha mente revirada
Todas às vezes que volto em casa para ver se não esqueci nada

O amor do meu filho
A angustia de ver ele crescendo e indo
Meus sentimentos em dia de chuva
O calor que eu sinto em dias de Sol
A beleza de cada madrugada

Minha insônia
Meus traumas
O meu acordar tarde com a convicção de já estou atrasada
A pouca água que bebo
Mesmo sendo recomendada

As coisas que escrevo
E o medo do que eu escrevo
As diversas coisas que eu penso silêncio e não escrevo
Minhas negligências

Os olhares desaprovação para meu comportamento
A pilha de livros que eu me comprometi faz tempo
As amizades que fiz
Os afetos que deixei pra traz
Os que eu quis ter e agora já não me procuram mais

Me pertence o tempo que me resta
O meu franzir da testa
Minha mente inquieta
E a vontade de movimentar o mundo
E mais nada