A aflição dos homens
Cala minha voz,
Derrama cinza em meus caminhos,
Veste de tristeza
Os versos
Que eu rasgo do peito.

Um vendaval
Devasta o meu quintal,
Seca meu rio,
Destrói o meu navio.

À noite, em meus sonhos,
Aflições tamanhas
Rondam min

De repente,
A luz do desejo da gente
Rasgou o escuro do presente
Que um céu azul todo encobria
Novamente
O sol quebrou suas corrente
Desceu pelas vertentes
Varou pelas janelas,
Portas, corações e tudo mais
O vendaval da liberdade passou sobre nós
Deixou o

Acorda, coração!
Os automóveis acordaram as ruas.
Suas buzinas acenderam o dia,
Num enlouquecer de tempestade,
Num alegre e triste ar de cidade.

Desperta, coração!
A vida preparou as armadilhas
E disfarçou-se em suas tantas faces;
Traçou seus planos, minou toda

Feito pássaro, feito música,
- Uma forma qualquer de ser livre e voar -
Onde os temporais, onde a estupidez
Não me quebrem as asas, nem tirem meu canto do ar.

Feito árvores, feito pétalas,
Florescer pelos campos, caminhos em qualquer lugar.
Menos, súdito, menos, máquina

Solto, alegre,
Pequenino beija-flor,
Pela flor do campo,
Um dia se encantou.

Ia, vinha,
Cheio de amor.
Beijava, cheirava,
Falava à flor:

Que bom seria,
Você, um dia
Quisesse comigo voar.
Eu levaria,
Você veria
O que há do lado de lá.

Beijo a lua, ganho a rua, tudo isso me seduz.
Varo a noite, viro trevas e amanheço luz.

Num canto, largo canto dos libertos,
Sou cor de luz, sou homem e Deus.

Minha canção me toma como quem me abre as asas
E voa, voa, voa...
E amanheço nas manhãs,
Desabrochando em

Manhã! Linda bailarina dos olhos de luz!
Que vem deixando, nos passos, vermelhos, azuis,
Lilás, rosa, verde, branco, ouro, negro, grená…
E todos os tons que a natureza soube inventar.

Soltando alegria no ar,
Soprando aves, nuvens no céu.
Qual mágica fada do dia.
Men

Calem a boca do mundo!
Fechem a luz da manhã,
que eu trago o canto ardendo nas veias
Se eu deixo ele incendeia em mim.

Fechem os olhos do dia,
Que eu faço meu coração
Portas e janelas,
quartos a luz de velas,
contos e novelas,
Faço a vida bela,
feito

Eu vi a vida levantar da mesa,
Vi seu olhar despetalar meus olhos,
O riso adormecer na minha boca,
A noite derramar trevas em mim.

Eu me desfiz em cinzas,
Eu me despi de mim,
Adormeci cansado,
Amanheci tão só,
Sentindo em mim a dor do amor...

Vaguei por en

Sai do ventre dessa terra, com as mãos vazias,
Mas, eu trazia em mim todos os sonhos do mundo.
Trazia a cor e o canto alegre de passarinhos;
O cheiro das manhãs, o verde dos caminhos.
Aqui, plantei meus sonhos, me acendi ao sol ,vinguei, criei raiz,
Aqui, eu fui feliz
Aq

O tempo pousa sua mão
Na cor dos meus cabelos,
Nos traços do meu riso,
No tom da minha voz,
No brilho dos meus olhos.
Mas, não apaga, em mim,
A chama que me acende o peito;
A força que me toma o braço;
A fé que me mostra os caminhos
- Essa vontade de sonhar -

Festa de vento é temporal
Festa de povo é carnaval
Festa, é santo bom pra todo mal

Festa de rima é cantoria
Festa de santo é romaria
E assim se esquece tudo na folia
E assim se fecham os olhos na alegria

Pelos salões, nessa multidão de bêbados
Somos milhões

Ser o espelho, só reproduzir
Uma imagem imposta por aí,
Uma realidade que eu não vi,
Forjada por um sol que não passou aqui.

Só fazer o que a estrutura dita,
Manter pilares, confirmar os mitos;
Pregar, perpetuar as diferenças,
Depositar alheio nas cabeças.

Pur

Quando o sol baixar os olhos sobre o dia,
Vestir o chão de cor, o céu de luz,
Varar vidraças, invadir as casas,
E iluminar os homens pelas ruas.

Aí, mostrar seus gestos,
Olhos, mente, rosto, corpo, alma e coração.
- Os homens se parecem iguais vistos de um avião -
P

Lavadeira, lava a minha saudade,
Na magia da tua melodia,
Lava essa dor que anoitece o meu dia
Só não laves a minha poesia.

Limpa de mim essa mágoa,
Que deságua nos meus olhos,
Como d'água brota um fio,
Que rasga o chão,
Se derrama como um rio.

Lava também

Iah, iê, Maná
Mana, manaú
Iah, iê, Maná
Mana, manaú

Filhos de Ajuricaba, filhas de Icamiabas
Eu trago um canto de morte
Vindo das tabas do norte
Da barra pajé
Do Forte de São José
Da barra pajé
Do Forte de São José
Ê Munduruku, ê Paumari
Ê Ku

Manaus,
A Barra deu lugar a inspirações.
O negro, abraçando o Solimões,
Me encheu os olhos, me deixou feliz.

Esta canção eu fiz pra te dizer
Que enquanto o sol rasgar as matas pra nascer,
Há de florir o rio do teu destino.
Incendiar meu peito de menino
Nascido n

Minh'alma vai sair do porto,
Cruzar a imensidão dos olhos,
Pousar na escuridão dos teus cabelos,

Brilhar na luz do teu amor,
E, se espalhar no teu caminho.
Andar e em ti, tecer o teu destino.

Afinal,
A gente já não sonha mais.
A vida e só vontade e a lei é tud

Zumbi,
Ajuricaba.
Irmãos da mesma cor.
- Não mede o homem a pele,
Mais, sim, a mesma dor.
Heróis da mesma guerra,
Frutos da mesma flor.

Coaraci, Oxalá, Quilombola,
Ganga Zumba, Tupã, Caipora...

Palmares pulsa nos ares de arco, flecha, cocares, entre flores

Como a linda concha guarda e ama
O que bem dentro lhe adoece e inflama;
Como a aranha tece a teia e guarda em lã
O que há de vir, no amanhã.

Como a paciente ave, com carinho,
Limpa, tece, faz, aquece o ninho
E passa o tempo a cantar nos caminhos,
A esperar seus pass