Solidão
Dissipam-se as brumas ao fim da noite
Negra e vasta imensidão desolada
Assim em infinita brevidade
A solidão é boa quando voluntária
Temes a ti mesmo
Mais que a própria morte
Pérfida batalha
Travas contra a sorte
Quero subir o morro mais alto
(O homem inveja o voo do pássaro)
Quero livre andar por verdes campos
(O som da água alcançando as pedras)
Quero respirar vapores clarificantes
(Já elevastes teu espírito hoje?)
Quero acender minha última vela
(A solidão é boa quando voluntária)
Do alto da minha solidão contemplo o mundo
Derradeiro afastamento que da vida me aparta
Férrea decisão de desdém à humanidade
E enquanto os mortos riem da dor dos que estão vivos
Eu humildemente choro
Choro por alguns mas não por todos
Choro por aqueles que aceitaram a árdua condição
De redentores de si mesmos
E ainda assim caem na ilusão
Florescem as ruínas minadas de dor
Na ignorância eminente de tua penúria
Unificado o ciclo, propagam-se nos horizontes
Melodias que de meu semblante emanam
Foges de teu medo
Oculta-o de ti mesmo
Mas diante do espelho
Desvelam-se os segredos
Quero perplexo blindar a morte
(Assim em absoluta relatividade)
Quero entender metade do que se passa
(Negra e vasta imensidão desolada)
Quero passar como passam os pássaros
(Visão romantizada do passado)
Quero ficar como ficam as pedras
(Em um dia nublado de folhas verdes)
O amargo fel que em teus lábios bebi
Oceano sem luz, escuridão
Nas tuas negras vagas o pavor senti
E mergulhei em teus braços, ó fria ilusão
Ó loucura que adentra meu ser
Quebra estes grilhões
Liberta-me!
Sinto a dor, a angústia e o medo
Que me corrói
E o chão sob meus pés se esvai
A maldição
Que agrilhoa com vis correntes de ilusão
Saibam seu nome
Solidão
Imo sens
A insanidade que adentra teu ser
Abrasa sua amargura
Toda a quietude da alma dilacerada
Num único instante aniquilada
Temes a ti mesmo
Mais que própria sorte
Pérfida batalha
Travas contra a morte
Quero saber o que sabem os velhos
Dissipam-se as brumas ao fim da noite
Quero sentir o que sentem os jovens
As flores cobertas de orvalho ao amanhecer
Quero pensar que tudo é sublime
Imaginação criando música e poesia
Quero assim chegar ao fim desta invernada
Plenamente satisfeito em ver nada!
Em meio ao silêncio e a escuridão
Contemplo ante luzidio espelho
Toda a ilusão que criei
Cuspindo farpas e espinhos de um ódio
Que insiste em meu peito queimar
Ante o malogro desta existência
Que a cada dia um tanto se esvai
E nesta sina de angústia e auto-destruição
Caminho só, a trêmulos passos
Até que retorne
A noite do ser
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