Paulo Dias Garcia - Relato De Vida E Morte Do Tordilho Natalino
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- Published 2024-05-06 00:00:00
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- Paulo Dias Garcia
- Relato De Vida E Morte Do Tordilho Natalino
- Translation by: panzas
Relato De Vida E Morte Do Tordilho Natalino
Num canhadão junto as casas a baia carpa da cria
Na hora da ave Maria no dia em que o Cristo nasce
Sem pedir que batizasse aquele potro salino
Atendeu por natalino na antiga rima pampeana
Foi quando a sina aragana assinalou seu destino
E o torcido foi nos pulso estendendo em terra bruta a mão ligeira executa
E o serviço já tá feito, não existe outro jeito depois que armada se cerra
O rubro desenha a terra quando a sangria desata
E uma ponta de tristeza, se amoita no coração
Quando um potro vai pro chão na crueldade da capa
Depois de três primaveras empessando a pega de potro
O tordilho era outro a franja cruzando a venta
Ajeitar as ferramentas, bocal, cabresto, lombilho
E derrubar o tordilho depois de manear de encontro
E assim que se ajeita um potro na antiga doma torena
Foi preciso três home pra lidar com esse ventena
Confesso que nunca vi já no primeiro galope
Um potro negar tão forte na saída do palanque
Metendo a Mão pela cara, tirando as rédeas pro chão
A pata buscou o garrão quando o índio pediu a solta
E a cachorrada na escolta mangueou de volta o matreiro
Que despachou até o bacheiro quando corcoveou na volta
Quando voltou pra mangueira com os olhos que eram um brasão
Se sabia de antemão que o tordilho natalino
Não aceitara o destino e a sina de ser bagual
E repetiu o ritual até o oitavo galope
Nunca se soube do trote se era duro ou macio
E garanto que ninguém viu um outro aguentar três pulo
Foram-se espalhando os pulos no carpeteio da doma
Estraviaram-se caronas partiram rédeas no meio
Consumiram com arreios na esperança de amansalo
Mas nunca se fez cavalo de freio o filho da baia, não demorou nas redondeza
Pra corre a fama do potro foi derrubando um e outro
E um mato de figueira foi plantado no potreiro
Se compreendeu que o matreiro nasceu pra ser aporreado
E o patrão achando lindo deu um toso no malino e deixou pra reservado
A fama foi recorrendo os bolichos e velórios
Virou até repertorio de uma rima pacholeada
Que um cantor improvisava numa rima de aporfia
Pra aparecer pras guria nas tardes de carreirada
Morena dos olhos lindos
Se tu olhares pra mim
Eu ajeito o natalino
Pra o teu andar de selin
Eu ajeito o natalino
Pra o teu andar de selin
Foi se tornando legenda na charla em volta do fogo
Era motivo de jogo nas rodas do chimarrão
Foi que o filho do patrão por moço numa bravata
Ajeitou umas cordas de prata e apostou com a peonada
Que amansava o tordilho e entregava de lombilho
Pra o andar da namora, e foi num final de tarde
Que se cumpriu a promessa depois que o destino embesta
Ninguém ataca o paisano, foi pra uma briga de mano que puxaram o reservado
O patrãozinho estrivado tinha coragem de sobra
Mas a vida emprime as norma e o luto vestiu a casa
O potro pegou na volta e atirou o cristão pra frente
E não mais que de repente pisou o pescoço do moço
E aquela tarde de agosto É a mais triste que carrego
O patrão tornousse cego por ver o filho sem vida
Por ser tão grande a ferida palmeou a arma do diabo
E o estampido deu cabo na fama desse tordilho
Como compreender o destino e entender as voltas da vida
Pois quem se criou na lida entendia o natalino
Tinha a marca do destino dos que nasceram libertos
E morreu no céu aberto defendendo sua vontade
Quando o dedo da maldade disparou inconseqüente
Eu lembrei da minha gente que tombou por liberdade
O patrão desatinado Contrariando a nossa crença pela dor e o desespero
Mandou enterrar o matreiro num quebrado de coxilha
Nem retirou as ensilha se foi com tudo pra campa
É quando a terra acalambra e imprime a aridez do sal
E mesmo na primavera que vem aflorando o pasto
É certo naquele espaço não brota sequer chircal
A terra morreu por triste Secou em volta do tumulo
Dizem que às vezes no escuro a tumba ilumina e brilha
Clareada num fogaréu, despregando-se do céu estrelas miúdas do agosto
Dizem que as cordas do moço se desenham no relento
Firmado no céu azul
Quando o cruzeiro do sul
Quando o cruzeiro do sul
Renasce no firmamento
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