Eu prefiro cantar a minha terra
Os barracos, vielas deste chão
A miséria beirando o São Gonçalo
Porta da frente do rincão
É preciso lembrar o saladeiro
Dia e noite o açoite, a escravidão
Charqueada mandando no destino
Filho pra Europa, negro no porão

Eu prefiro

Fura aqui, fura dali
Fura lá, fura acolá
Mais parece um tamanduá
Furando um buraco ali
O progresso em frenesi
Em nada pode parar
Fura poço em pleno mar
A Natureza se esbanja
A Terra é uma laranja
Qualquer dia vai murchar

Cavam pás e picaretas
Máquina

A vida nos cobra
A palavra não dita
A frase não escrita
O arrependimento
A vida nos cobra
A volta, a partida
Não curar as feridas
Cobra a vida e o tempo

A vida nos cobra
A indecisão
A opinião
A firmeza dos atos
A vida nos cobra
Toda a ação

A vida pode parecer despretensiosa
Alguém poderá dizer: Deixe isso pra lá
Porém a vida é mais além
Há vida entre o mal e o bem
Respira fundo, pois o dia só vai começar

Os olhos buscam a luz da rua, a simplicidade
Desconstruir ideias é se libertar
Ser a semente que v

Exploram tua força de trabalho
Sonegam os teus sonhos, dizem não
Transformam tua vida num atalho
Verdadeiros mercadores de ilusão

Espalham suas mentiras a tanta gente
Apontam sempre o erro e o pecado
E rezam para um Deus tão excludente
Arrogante, o chamam Deus Merca

Tudo aconteceu num certo dia
Hora da Ave Maria
O Universo viu gerar
No princípio, o verbo se fez fogo
Nem Atlas tinha o Globo
Mas tinha nome o lugar
Era Terra, terra
Era Terra, terra

E fez o criador a Natureza
Fez os campos e florestas
Fez os bichos, fez

Vai nesta cantiga a despedida
De um agradecido trovador
Vossa atenção que me foi dada
Levarei na mala, sim senhor

Seguirei assim minha estrada
Um caminheiro só, na Lua cheia
E cantarei nos casarios, pelas calçadas
Na madrugada das tabernas, nas aldeias

Mas não

Mal sabia quem lá estava
Era a morte que rondava
E um banquete preparava
Para as aves de rapina
Com fuzis e carabinas
Aguardava na surdina
O momento da chacina
Que ali se desenhava

Até hoje quem esquece
O sangue na curva s
E o pavor de quem perece
Nu

Menino, olha, passa pra dentro
O tempo está feio, olha que vai chover
As nuvens prometem tormenta
Rodeadas de vento, ao anoitecer

Já fiz cruz de sal, vela no castiçal
Pra santinha me atender
Menino, olha, passa pra dentro
O tempo está feio, olha que vai chover

E foi assim
Diria, enfim
Papel jogado
Olhar perdido
Choro contido
Um gosto amargo

Todos os gestos
Nenhum protesto
Aquele amor
Sorriso mudo
Negando tudo
Sofrer e a dor

A calmaria
A noite fria
Pouco se explica
Ruas vazias
E vem o

Envelhecemos
A vida faz as contas todos os dias
A tarde, o sol se vai, a noite guia
Na retina, na vidraça, nos olhos teus

Envelhecemos
Parece que foi ontem, quem diria?
A juventude, o riso e a alegria
Guardavam todos os sonhos e um Adeus

Envelhecemos
Envol

Eu vi Jesus renascer
No céu cinzento da cidade
Marquises, vitrines, novidades
Nazarenos buscando o que comer

Eu vi Jesus renascer
Nos olhos daqueles meninos
Moleques, miúdos, franzinos
Meninos, missão: Sobreviver

Andam pedindo no sinal
Algum trocado, Deus

Quem sabe o que aconteceu
O que sucedeu
O que foi de fato?
Quem sabe algo sem querer
Na hora de dizer
Não deixou barato?

Quem sabe foi nossa distância
Não tem relevância
O tempo já passou
De todo o mal entendido
O dito por não dito
Pouco revelou?

Guitarra trabalhadora
Guitarra, sonora madeira
Guitarra de toda gente
Guitarra de toda maneira

Guitarra trabalhadora
Das madrugadas, dos rádios
Nas manhãs, nos coletivos
Operárias e operários

Guitarra trabajadora
Al filo de uma navaja
Guitarra trabajad