Isto foi no mês de outubro
Regulava o meio-dia
O Sol parecia brasa
Queimava que até feria

Foi um dia muito triste
Só cigarras que se ouvia
O triste cantar dos pássaros
Naquelas matas sombrias

Numa campina deserta
Uma casinha existia
Na frente uma paiad

A cerveja é minha prima
E o vinho é meu primo-irmão
A cachaça é a minha tia
O meu tio é o conhaque alcatrão

O meu pai é o danado do chops
Nunca pode faltar na função
Se nós não estiver numa festa
Não tem graça nem animação

Somos bem combinado
Eu já tenho f

Numa tarde muito triste
Do santo mês de dezembro
Com tristeza eu me lembro
De um Natal que passou
Na minha casa chegou
Uma folia de Reis

A sua esmola pedia
Cantando agradecia
Convidando as famílias
Pra festa do dia seis ai, ai

Com minha filha doente

Eu nasci no estado de Minas
Isto eu falo e dou prova real
Na cidade de Três Corações
Bem distante aqui da capital

Sou inclinado a cantar de viola
Sempre quis ser um profissional
Certo dia assinei um contrato
Com um senhor um fulano de tal
Foi que eu vim, mas vim

Eu trago na lembrança
Quando era criança
Morava na roça
E gostava da troça

Do monjolo d'água
Da casa de tábua
Quando o Sol saía
Na invernada subia

Pras vacas leiteira
Tocar na mangueira
Fui moleque sapeca
Levado da breca

Gostava da viola

Eu conheço um cantador
Que canta, mas não inventa
Também tem compositor
Que faz e não apresenta
Os fãs que me consideram
Diz que eu sou pedra noventa
Porque faço melodia
Canto com a voz macia
Escrevo minhas poesia
E a moringa não esquenta

Esta viola de p

Não, não é assim
Deste para outro o que me prometeu
Zombando de mim
Não, não vou perdoar
Ao ver disfarçada com os lábios molhados
E querer me beijar

Tu não mede o sacrifício
Que eu dedico a você
Amando quem não me quer
Desprezando meu querer

Tu dormes

De todas as coisas o poeta falou
Nos rios, nos mares, na paz e na guerra
Nas matas que abrigam animais selvagens
No carro de boi e no pico da serra

Falou sobre as maravilhas do mundo
Falou sobre as flores no amanhecer
Falou que o amor faz sorrir e chorar
Faz o homem

Deita em meus braços
Você pediu para mim
Quando estávamos juntinhos
Você me abraçou, você me beijou
Me dizendo assim

Meu amor, eu te adoro
Por você eu choro e sofro até morrer
Você é a minha vida
Minha ilusão perdida
Meu destino é sofrer

Sofrer por um

Vejo no espelho o meu rosto envelhecendo
Qual oceano após a sanha de um tufão
A espuma branca são meus cabelos grisalhos
Minha calvície é a praia da ilusão

As minhas rugas são as ondas traiçoeiras
Que se avolumam com os fortes vendavais
Meus olhos fundos são dois barcos

Ai, a viola me conhece
Eu não posso cantar só
Ai, se eu sozinho canto bem
Junto eu canto melhor

Ai, vai chegando o mês de agosto
Bem pertinho de setembro
Os passarinhos canta alegre
Por ver a mata florescendo

Ai, eu não sei o que será
Que já vai me entrist

Na serra aonde eu nasci
A gente só escuta o cantar dos pássaros
E a cigarra canta naquela sombra
Nas árvores em dias de bem mormaço

É um lugar tão montanhoso
Que o Sol demora a surgir no espaço
Mas se de lá mudar meus parentes
Nem a passeio por lá não passo

Vi

Eu amei um alguém nessa Terra
Era ela pra mim, Deus no céu
Na igrejinha lá no pé da serra
Nós brincamos de passar anel

Eu e ela tinha nove anos
E juramos ali se casar
Oito anos passaram voando
Que nem vimos o tempo passar

Quando o padre abençoou a aliança

Vinte e seis de fevereiro
Pra servir eu fui chamado
Novecentos e dezenove
Até hoje estou lembrado
Eu segui para São Paulo

Levei meu certificado
Me apresentei num quartel
Onde eu fui inspecionado
O doutor de lá me disse
Você vai dá um bom soldado
Segue ho

Um lindo pé de roseira
Me deu uma flor em botão
Pra ela eu fiz estes versos
Demonstrando gratidão

Chora a prima e a requinta
E a tueira e o bordão
Se até madeira chora
Que dirá meu coração

Eu já perdi muito tempo
De ter meu amor nos braços
Sem ela eu s

Foi às quatro horas da manhã
Meu cachorro de guarda latiu
Levantei para ver o que era
E vesti meu casaco de frio

Então vi que chegou um mensageiro
Montado num burro tordio
Apeou e me disse, bom dia
E o bolso da baldrana ele abriu
Uma carta o rapaz me entregou

Eu moro na capital
Mas nasci no interior
Fui criado lá na roça
Sou filho de lavrador

Fui colono e fui meieiro
Fui peão e domador
Fui ponteiro de boiada
Passo a passo nas estradas
Muitos bois me acompanhou

Acordava bem cedinho
No cantar da passarada

Através dos versos simples que escrevi
Faço um pedido a vossa excelência
Sei que tens também uma veia poética
E todo poeta ama a natureza

Eu ganho tão pouco, senhor presidente
O suficiente para a sobrevivência
Não estou pedindo aumento de salário
Quero que me perdoe

Resolvi fazer uns versos
Que meu coração pediu
No ponteado da viola
Da tueira e o canotil

Quando escuto o som da viola
No meu corpo dá um arrepio
Amanheci inspirado
Eu voltei lá no passado
Quinhentos anos de Brasil

Recordei de grandes homens
Que nesta

Eu nasci naquela serra
Num ranchinho à beira chão
Eu adoro a minha terra
Lá foi minha criação
Só não ama sua terra
Quem não tiver coração

Meu ranchinho é de taquara
Amarrado de cipó
Quando a tarde é noite clara
Só se escuta o chororó
Piando naquelas furn