Água da bica da cacimba mata a sede
A terra cheira quando chove, sabiá
Sabe, sabiá, ontem eu vi minha morena bandoleira
Sabiá, eu vi o meu amor passar

O choro da mata chama a chuva de janeiro
A terra treme quando o ronco troveja
Sabe, sabiá, ontem eu vi um Curupira tão

Eu me peguei andando tarde por aí
Ladeira abaixo eu tenho medo de cair
Vivo os dias esperando o carnaval
E trago comigo uma alegria terminal

Eu sou palhaço mas sou pago pra sorrir
Você julga a mim como um largado, e daí?
Eu vivo na mesma economia que você
E eu sofro

Eu espero, calmamente, o meu amor chegar

No teu corpo tatuagem, borboletas
Subo até sua constelação
Ela diz querer surfar em meus cabelos verdes, ondas com a perfeição

As espumas são minhas mãos, e teus belos seios querendo acariciar
Nessa praia de desejos ela se aventura

"Até aonde eu vou?"
Me pego a perguntar
Sem saber do mistério que há da ponte pra cá

Que rua eu pego depois da Iemanjá?
A santa que aponta o caminho do meu lugar

"Até aonde eu vou?"
Deixa a perna cansar
Do limite pra frente só resta o belo mar

A cidade cresc

Colheu do chão aquilo que Deus lhe deu mas não soube cultivar
A escassez não demorou e lhe proveu a vontade de mudar
Maria apanhou do tempo um sonho nascido num oásis do sertão
Até aonde vai durar a dor de morte pura e sequidão

Morte e vida, a sua sina. E a dor convém
Morte

Antes de dormir
A gente tenta entender tudo o que aconteceu
E se arrepender
Se esquecer das iras e dos todos gritos que deu

Antes de dormir
A gente tenta perdoar quem não se arrependeu
E talvez sorrir
Das coisas boas que o dia lhe concedeu

Até quando vai durar

Quem vem subindo, de longe pode ver
Que o batuque não dá pra esquecer
Todas as cores e o paço mostram arte
E um grande estandarte, ladeira a percorrer

Descobri lindas paisagens de olinda
Enquanto o bloco passar, a nostalgia alucina

Maracatus, tambores e encantos
D

O paraíso é o lugar que a gente quer chegar
Ou paraíso é o lugar que a gente está?
Não reparando na beleza dos lugares
E as coisas pequenas não atraem os teus olhares.

Será que vale a pena se mudar
E ficar em um lugar que a gente sonha estar.
Será que vale a pena se esq

Cadê a certeza de que tudo vai melhorar
Deixar o tempo resolver não vai ajudar
Sentir o desgosto da poesia aflorar
Declarar disposto pra vida inteira encarar

É mentira querer deixar-se levar
Sofrer antes de morrer não é a cura
A poesia que bate dentro de um bordão
É

Desvendo olhares sabendo o que dizem, e vou além
Eu vejo segredos fugindo dos olhos mais cegos que os que vêem
Eu vou dando corda puxando a troça, seja aonde for
O carnaval chegou

O mesmo se foi e ficaram os versos e sua paixão
Eu levo comigo a saudade que foi deixada no ch

Pelo tempo caminhei até chegar no mar
E, da areia avistei de longe o altar
Vi o mar escurecer, a lua clarear com um sorriso lá no céu pra me completar

Que a comadre viu do arranha-céu, coqueiro
Fez a luz cair de lá na terra
A rainha refletiu no espelho a lua
Mar adentro