Âncora
Minha depressão tem sua voz e tá pedindo pra que eu morra
Minha ansiedade tem sua voz e tá me dizendo: corra
Tudo me força a obedecer, entre Sodoma e Gomorra
Me diz, quando que eu recusei o que me pediu pra ser?
Então que sangue escorra na gangorra
A sós, minha timidez não tem voz e me deixa aqui parado
Lucidez nos lençóis é o que me deixa alucinado
Esses anjos de Lúcifer, qual luz se vê, o que me conduz
Não se vê, afinal agora você decidiu apagar a luz e não se despir
Mas se despedir e adiantou eu pedir pra ficar aqui?
Pra tentar? Se sua decisão já tinha sido tomada
E as minhas mãos molhadas no fio solto daquela tomada
Talvez seja a escolha mais sábia a ser tomada
Vivendo entre a cruz e espada, na noite calada, eu sigo calado
Ouvindo sua risada e os passos na escada
Eu descobri que a minha vida é uma droga
E eu acho que eu tô viciado
São sombras que me perseguem mesmo em dias nublados
Lembrando como a gente odiava aqueles filmes dublados
Mas acho que éramos nós os personagens da trama
E hoje eu só acordo confuso tentando lembrar onde era seu lado da cama
Rezando por melhores dias
Mas na verdade nem sabendo o que fazer nas orações
Se eu peço na prece ou agradeço, se eu me rendo ou pago o preço
Reconheço o que mereço e, e, e entendo suas decisões
Porque enquanto um quer, o outro não, o outro quer, um não
Nem bebo mais esses goles de Curaçau não curam meu coração
Fomos vítimas dos próprios erros e refém de nossas escolhas
Nossos encontros hoje são enterros e os gritos ecoam em bolhas
A gente viveu sem cuidado com profundidade, no fogo cruzado
O inverso de um nado não sincronizado
Lado a lado, vem, coloca os pés nos meus ombros
Mesmo que eu fique submerso e agonize afogado
Fomos prelude caindo na Ilhas Marianas
E Niimitz bombardeando Kermadec
Queimava o beck, entre pesadelos de noites insanas
Entre o cheiro do Malbec, e cigarretas cubanas
Sem a sua manha de manhã
Eu nem sei quem me acompanha amanhã
A garganta arranha, o coração apanha
Solidão acompanha e no fim do jogo ninguém ganha
Ouvi que os fins justificam os meios
Rolando páginas sem fim lendo seus os e-mails
Somos sinônimos do cúmulo
Vem mais um dia 23 e eu vou regar as flores do nosso túmulo
Seguindo aos poucos, juntando cacos
Quisemos ser loucos, mas fomos fracos
Fria esfinge não finge, eu paciente monge
Só te quero bem, enquanto você me quer longe
Cultivando borboletas mortas no estômago
Ataca o âmago, pensamento retrógrado, sem afago derramo
Uma parte do drink no copo agora vazio
Que caiu na vala com todos os eu te amo
Fala, vai, me atropela, diz se eu errei
Vive uma bela vida sem lei
A vez é dela, rainha sem rei
Minhas melhores cartas foram aquelas que não enviei
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