Vim te ver
To vindo da feira
Comprei pé de couve de um moleque
Que tava com a sogra de olho, maldita
Torcendo pra ele não vender

Trouxe milho
Fubá de moinho d'água
Pra lavar as mágoa
Pra matar a sede dos que não tem de comer

Na sacola tem banana pros gring

Se caixa vazia, atitude
Se papel em branco, alaúde
Se Cuca, Saci, Robin Hood
Se música alta, exceção

Se capim molhado, endereço
Se sinto vontade, apareço
Se crio coragem, mereço
Se velocidade, infração

Se fotografia, saudade
Se bebo um tanto, verdade

Foi-se embora o carnaval
E com ele o amor do Pierrot pela Bailarina
Que dançava estrela, escondia dia
Confundindo o sonho com a fantasia

Ele era o tal
Rei do carnaval
Pura alegoria
Se entregava ao samba
E se sentia mal ao raiar do dia

De encantado foi proc

Era São João de festa
Chamei Joana Helena
Vão bora casar?

Nem que não posso
Não sei, não dou jeito
Sou virgem de altar

Vão que é moleza
Ajoelha, reza, apruma,
Abençoa e vai dançar

Nem que não posso
Não sei, não dou jeito
Não sei rebolar

X

Claro raio, clareia
Claro na clara areia
Clarear, clarear, pra clarear

Aonde eu vou
e a vida vai
quero clarear
Aonde eu sou
e a vida dói
Clarão, clareia
Clareia

Um clarão na mata
Um ponto exato
A luz magenta
O diamante
Um fogo fátuo faz

Vou me despedir que já cansei de esperar
Levo a canção que fez pra mim e já não sabe mais tocar
Vou me demitir, coser, cerzir, vou me virar
Há uma janela procurando um sabiá
Vai encanta o dia, acorda a noite a cantar
Voa que seu canto só precisa se encontrar

Se a lente fotoguarda
A mente só recorda
Da manchete no jornal
Da guarita grita o guarda
Quando a chuva acorda
A moça do sorriso largo

Se a lente fotoguarda
A mente só recorda
Da manchete no jornal
Da guarita grita o guarda
Quando a chuva acorda
A

A menina cheia de graça dança
Gira no centro da saia
Faz a sanfona tocar
Zabumba, zabumba
Retumba meu coração
A vida inteira
Alegria do pé na poeira
Ginga pro tempo passar

O vento sopra o coqueiro na dança
Lampião acende o terreiro pra dançar
Quebra coc

O amor na relva
O amor no chão
Na rede, no ramo de flor
O amor suado, cansado
O amor na sala,
O amor no chão

No viço do riso falso
No ato falho
No raso das rimas o amor dormiu
O amor roncou

Rosnou de ranzinza
Ralhou, rompeu com a razão
Rasgou

Curió veio chegando mansinho
Querendo carinho, cafuné
Se ajeitou fez seu ninho na sombra, quietinho
Maracujá pé

Todo dia escuto seu cheiro
Perfume de sonho e de fé
Reinvento o luar, faço o sol aparecer

Vez então Curió se encantou com o riso da moça
Queria seu

Índio saiu da mata
Deixou a taba
Foi pra cidade se entrosar
Falava tupi-guarani
E um dialeto
Não havia jeito de se comunicar

Índio pra ser cortês
Quis aprender português
Para com o branco uma idéia trocar
Mas índio cá na cidade
Que calamidade
Não

A canção explodiu
No coração do menino
Fagulha, asa, tino
Traçou o seu destino mundo afora

E quando a vida chora
Não tem tempo, não tem hora
Não há nada que segura
Sua voz de primavera quando a fina flor aflora

O som tem cor
A cor aroma
O escuro luz i

Já não há dezembros, nem domingos
Nem azuis manhãs de abril
Já não há dia de sol
Nem a lua gasta do nosso anel
A olhar por nós

Só a lua vaga, a lua tonta, lua louca
riscando o céu feito tortura que tritura
as entranhas, com perguntas tolas

Onde foi que perdeu-

Passarinho me encontrou chorando
Insistiu em seu canto pra me acalentar
Disse a ele que era dor e pranto
Por um grande amor que não pude esperar

Foi voando pelo céu cantando
Cantando meu pranto a beira mar
Só pra ver se fazia um santo
Um santo ouvir seu canto pra me

Lápis e papel
Ponto cruz e pincel
Linha do horizonte presa num carretel

Cata-ventos, catedrais
São Luiz, ilusão
Lençóis lagos ilegais
Luz, lisura, invenção

Mundo aumenta se eu invento
E se o mundo acabou
Reviro e recorto
Pinto e bordo de outra cor

<

Oh! Senhora do samba
abre a porta eu vou entrar
A chama do samba
acendeu eu vou cantar
Eu tenho swing seu sangue eu não vou negar
Eu tenho swing seu sangue eu não vou negar

Templo de bamba
Samba sempre a batucar
Samba, abre e não explica
Deixa entrar

Talvez eu não seja poeta
Talvez eu só traga uma seta
Cravada no peito que espeta
Quando a vida é curta
E a alegria é pouca
Quando busco uma reta na estrada torta

Talvez eu não seja poeta
Só traga no peito cravada uma faca
Que dilacera
Quando abro a janela<

Ao nó da gravata apertada
À poça no asfalto da esquina
Às quinas do móvel da sala
À meia que nunca combina

Ao tombo do pão com manteiga
À velha azeitona assassina
À carta que volta e não chega
Ao leite caído da tina

Ah! Tem dó
Tem pena de mim
Já pedi p

Uma parece sereia
A outra mais desengonçada
Uma lembra a Santa Ceia
A outra a fome danada
Uma o dia clareia
A outra é noite fechada
São milhões de palavras feias
E bonitas misturadas

Umas sempre mais tranqüilas
Outras mais desesperadas
Umas calmas e gent