Cá p'ra mim a minha rua
É um risonho canteiro
Tem gatos miando à Lua
Nos telhados em Janeiro

Tudo ali é português
Tudo lá, vive contente
Vive o pobre e o burguês
É pequenina? Talvez
Mas cabe lá toda a gente

Melhor eu nunca vi
Do que a rua onde nasci

Amar-te não pode, somente, ser um gesto vago
Tão pouco beber-te, demente, apenas dum trago
Amar-te é ter a alma a voz, só por este prazer
De junto de ti saber ser mulher

Com lençóis de Lua
Abro a minha cama
E entrego-me nua
Só como quem ama
Com lençóis de Lua

Meu amor é marinheiro
E mora no alto mar
Seus braços são como o vento
Ninguém os pode amarrar

Quando chega à minha beira
Todo o meu sangue é um rio
Onde o meu amor aporta
Seu coração, um navio

Meu amor disse que eu tinha
Na boca um gosto a saudade
E un

Deste-me um nome de rua, duma rua de Lisboa
Muito mais nome de rua, do que nome de pessoa
Um desses nomes de rua, que são nomes de canoa

Nome de rua quieta
Onde á noite ninguém passa
Onde o ciúme é uma seta e o amor é uma taça
Nome de rua secreta
Onde á noite ningué

Adeus, que já não são meus, os erros que eu faço
Lancei, as contas que errei, para o teu regaço
Adeus quando embalas a minha tristeza
Pensando que a calas por a manteres presa

Agora, não me vou embora, nem fico a teu lado
Chorar, é já um lugar, pra’ra quem canta o fado

<

Oh, Júlia, trocas a noite p'lo fado
P’lo fado, esse malandro vadio
Oh, Júlia, olha que é tarde, toma cuidado
Leva o teu xaile traçado
Porque de noite faz frio

Oh, Júlia, andas co’a noite na alma
Tem calma, ainda te perdes pra aí
Oh, Júlia, se estás no mundo vencida<

Fado, meu vagabundo de rua
Não sei que vida é a tua que andas armado em senhor
Fado, tu gostas é de algazarra
Dum xaile, duma guitarra, das patuscadas do amor

Ser fadista, ser um fadista de raça
É enfrentar a ameaça, é uma graça que Deus nos deu
Ser fadista é o destino

Trago o alecrim, trago Saramago
Cheira-me a jasmim
O resto que trago
Trago umas mezinhas
Para o coração
Feitas das ervinhas
Que apanhei no chão!

Sou filha das ervas
Nelas me criei
Comendo-as azedas
Todas que encontrei
Atrás das formigas
Horas que

Vesti a minha saudade
Saí com ela pra’ra rua
Toda a gente da cidade
Viu que a saudade era tua

Fugi da cidade grande
Fui pra’ro campo, estava frio
E vi correr o teu nome
Por sobre as águas do rio

Meu pensamento correu
Sem o poder alcançar
Depois, vi que