Os meus pés descalços
Descansam sobre a grama do seu jardim
Enfim o vento passa por nós
Nem sempre veloz
Quase sempre traz o seu perfume pra mim

Ou será só o perfume da flor
E eu sob um feitiço algo mais começo a supor?

Minhas mãos caminham distraídas
Pela gra

Olho pro leste
Pra esquecer que o sol se põe
Mas o azul celeste
De repente se decompõe
Dizem que existe paz
Entre o céu laranja e o azul lilás

Dizem que existe algo mais
Além do barco, do mar e do cais

Olho pro leste
Pra esquecer que o sol se põe
Mas q

O prédio
A casa cápsula
A sala remédio
Me cura e captura
Me tortura o tédio
Me cobre e me descobre
Me conforta o teto

Mal ou bem
Me consola alguém por perto
E me convém o amor concreto

Quebra cabeça
De pedra e cimento
Minha cabeça
De quebra

Balão
Onde você foi parar?
Eu vi você subir
Eu vi você sumir no ar azul
Que dentro de você não há
Eu vivo a esperar-te em nuvens
Num vento a soprar-te
Em minha direção

Eu gastaria todo o tempo que me resta
Sonhando contigo
Encosta esse carro
E tira o meu corpo do frio
Com calma

Eu viveria até não me lembrar de nada
Só por mais um trago
E tudo num quadro
No meu disco adulto
O que é teu
Faz falta

Mais tarde vai

Jogue fora seus sapatos apertados
Deixe o sangue descer aos pés
E pra que o sangue suba aos dedos das mãos
Jogue fora seus anéis

Jogue fora seus segredos obscuros
Jogue fora seus maiores medos
Só não jogue fora os seus óculos escuros
Os seus olhos são seus únicos se

Se eu esquecer o nome
Desse rio que passou
Desenterro as minhas pernas
Seu leito frio
Esvaziou meu peito
Dito e feito, amor
Tão perdido que perfeito
Desaguou no mar
Avesso a voltar

Se eu esquecer o nome
Do lugar onde ele foi chegar
Lembro ser um bo

A minha mãe
Saiu de casa
Sem avisar ninguém
Deixou a porta aberta
A chave nela
A porta aberta
E não atende o celular

A minha mãe
Puxou meus olhos
E o jeito do meu pai
De me olhar nos olhos
A porta aberta
Molhar meus olhos
Sem avisar ninguém</

Escuto o ronco do motor
Escuto gritos de amor

Escuto o ronco do motor
Coitado do pneu que não tem apnéia
Escuto gritos de amor
Coitado desse atraco que não tem traquéia
Olha só pr'aquele disco voador

Coitado do ET que não tem tato
Da etéia que não tem teta

Se você tiver alguma coisa pra dizer
Eu vou ouvir
Não se admire se eu usar minha Navalha de Occam
Mais três passos, mais dois passos, mais um passo
E eu vou virar compasso seu
E vou parar de pulsar
E vou pensar que céu escureceu
Qual das cenas vamos comentar
Se é

Lá vem o trem
Lá vem o pássaro
Lá vem o trem
Lá vem o pássaro também
Seguindo o trem
Ou será o trem que segue o pássaro?
Ou será o trem que voa a toa como o rio escoa?

O trem vem sem ninguém
E o pássaro vem com o trem
E o pássaro sente saudade
Dos pássar

Não desfoque do centro dos meus olhos
Nada espere além dessas cores
Mas se o tom mudar
E por fim você quiser
Outro par
Mude num piscar

Não desvie das linhas do meu corpo
Que te levam pra além dessas dores
Mas se a dor ficar
Pode ser melhor lembrar
Que nã

Eu sonho do tamanho do meu vazio
Noites a fio pensando estar desperto
Eu, sobre mim, não pouso, plano
E haja pavio pra olhar-me assim de perto

É torto o desengano
Que só surgiu quando se ouviu
Que o amor baldio pesa
Que seja breve, enquanto cessa
Antes que o bri

Hoje eu acordei pensando que não era
Hoje eu acordei pensando que era ontem
Ontem eu pensava que hoje não ia ser como foi
Os dias estão ficando iguais
Tão retos e concretos que parecem certos
Os meus dias parecem tão normais

Quem vive calado sabe tudo ou nada
Se eu

Eu não sei por que
Eu fico triste começa a chover
Se você for embora vai chover pra sempre
Eu não sei por que
Faço chover mas não faço nevar
Talvez eu não seja fio o bastante
Incessante essa chuva me faz
Lembrar de chorar

Eu vou usar o meu chapéu
Para evitar

Não há nada mais a me prender aqui
Em minhas mãos, enfim eu tenho a solução
Joguei fora o controle da TV
Que é pra ver se você presta atenção

Pare um pouco e pense, meu bem
O silêncio não é bom pra ninguém
Quem de nós vai romper a tensão?
Não discorde do que eu fale

Te fotografei
Te tatuei
Num papel fosco
Te coloquei
Num caderninho tosco
Nunca mais te achei

Se fosse minha tela de cinema

Todo dia raios de sol vêm me visitar
Chegam sem avisar ninguém
Mas quem há de se incomodar?
Me acordam sem fazer sequer
Um som qualquer
Agora é só o que me importa

Todo dia a melancolia se desfaz
Depois que abro os olhos
Antes que eu veja as cores
Me escuta,

Pouca coisa ainda vai restar
Do ontem amanhã
Acordo cedo
Não tenho medo

Se eu telefonar
Só pra contar que tudo corre bem
Mas tenho muito sono de manhã
E sonho sempre que o meu corpo
É como um grão de areia

Se eu telefonar
Só pra lembrar da minha própri