Ela brincou de dor debaixo da chuva
Alimentou-se das gotas dos temporais
Olhou seu corpo e encontrava-se nua
Vestida apenas com seus somados ais

Brincou de cabra cega com o passado
Usou a venda nos olhos como amuleto
Tateou e experimentou sabor amargo
Saturou-se de

Pra que tanto roteiro?
Siga o desnorteio
Que tal atuar
No sentir, perceber?

Se é um ser inteiro
Por que se mostra meio
Pra que se alojar
No que não é você?

E não poupar devaneios
Nunca deixar de ensaiar
E permitir desatinos
Pra se protagonizar

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Tanto mundo
Pra descobrir
E ver o que me encanta ali na frente

Ficar mudo
Coexistir
Com o amor que fala em línguas diferentes

Mudar rumo
Me permitir
Viver com asas e espalhar sementes

Mas se o fruto
Sobressair
Talvez morada aqui seja prudente

Que estratégia mais covarde
Deixar o amor ser tarde
Esperar que o sol se baixe
Aguardar o breu do outro

Que estratégia tão sem vida
Esperar que chegue o fim

Quanta falta de horizonte
Deixar o amor ser longe
Esperar que o fogo apague
Aguardar cinzas do outr

Não tem mais tic-tac
Os relógios correm digitais
Até o merthiolate
Quando uso não me arde mais

Eu já não ouço o tempo
Mas ainda sinto dor

Não tem mais telegrama
Sentimento é virtual
E a música baiana
Resumiu-se em carnaval

Eu já não mando cartas

Ele tem um quê de tanto
Do que gosto e preciso
Ele tem um quê de encanto
Quando passa distraído

Ele tem um quê de festa
Quando noto seu sorriso
Ele tem um quê de fresta
Um horizonte descabido

Ele tem um quê de arte
Que desperta meu fascínio
Ele tem um

Quando o amor vai embora
A casa fica desajeitada
Tem pó até no aspirador

Quando o amor vai embora
A cama até quando é arrumada
Está bagunçada pela dor

Quando o amor vai embora
Verdade grita escancarada
Coisas que a gente não notou

Quando o amor vai embor

Se procura só beleza
Faça-me a gentileza
Dos seus olhos desviar
Esta moldura é só pra agora
Daqui a pouco vai embora
E nada em mim vai te encantar

Se procura só por bolso
Minha conta é um desgosto
Deixa eu logo te avisar
Meu dinheiro é pros meus sonhos
N